Origem do Mito


Mito quer dizer conto. Todos os povos sempre produziram seus contos, suas lendas, seus personagens extraordinários. Na Grécia antiga ou nos sertões do Nordeste, o mito é uma presença constante e viva na mentalidade do povo simples, que povoa o seu mundo com ídolos benfazejos e malfazejos, criações fantásticas de sua imaginação exuberante. No tempo de Homero (século VII, A.C.), mito designava um discurso genérico acerca das coisas e somente mais tarde essa palavra passou a significar um "conto sobre a divindade", uma história que envolvia o céu e a terra, os seres celestes e os mortais.

A origem do mito perde-se na penumbra da pré-história, mas podemos fazê-la coincidir, ao menos virtualmente, com o acontecimento chave, que demarcou inexoravelmente o surgimento da espécie humana, um acontecimento de extraordinária importância no longo caminho da evolução do homem, que foi o despertar da consciência, do pensamento reflexo. Até então aterrorizado e subjugado pelas forças da natureza, o homem começa a compreender que o raio incendiário, a tormenta voraz, o mar tempestuoso ou o sol que escurece no meio do céu não são fenômenos casuais e aleatórios, mas têm alguma causa, obedecem a uma lei misteriosa, a alguma autoridade poderosa da qual depende a vida de tudo e de todos: Não sabendo determinar com clareza qual seria esta causa, o homem passa a atribuí-la ao numinoso, ao excelso, ao destino, ao senhor da terra, ao espírito cósmico, não importa qual seja a denominação ou a personificação que estas forças passem a ter, elas funcionam como explicação e como origem para tudo o que ocorre.

A explicação advinda do mito é, geralmente, absurda, irracional, até contraditória. Mas isto é o que menos importa. O que interessa não é aquilo que está sendo afirmado, mas o fato de que, por trás desta afirmação, há um esforço de correlacionar um efeito a uma causa, de descobrir um nexo entre as coisas e a sua origem mais profunda. A partir de então, começa a lenta vitória da inteligência sobre o medo milenar da escuridão, da morte: o caos, o cego aglomerado da matéria primordial, anima-se, cria vida e toma forma, torna-se um cosmos, isto é, um universo organizado, onde cada força cósmica recebe um nome e uma função.


Na fantasia primitiva, os seres mitológicos ocupavam todo o espaço do pensamento, abrangendo todos os fenômenos e conferindo brilho às inteligências de então. Na Grécia antiga, por exemplo, Urano é o céu ("aquilo que está em cima") e Gaia ou Géia, a terra ("o que está embaixo); Eros é o amor, "o palpitar que distende o corpo". Urano une-se a Gaia e dessa união nasce Cronos, o tempo. Une-se novamente à terra e ao mar e povoa o universo com seres os mais diversos. Cronos, num ato de rebeldia, castra o pai (Urano), extinguindo sua fecundidade, e com isto torna-se o senhor do universo, a quem impõe sua vontade , em forma de dias, horas, anos, séculos.

A criação deste mundo fantástico tem ainda outra vantagem: agora o homem não está mais sozinho. Ele sabe que em cada fenômeno da natureza se escondem as presenças sobre-humanas; aprende a reconhecê-las e a chamá-las pelo nome e oferece sacrifícios e preces em sua homenagem para merecer proteção. O universo fica mais rico e o homem se sente mais seguro. Nascem aí os primeiros templos, os primeiros altares, nasce o culto do sagrado.

Moldados pela visão antropomórfica, os seres mitológicos, embora superiores aos homens, têm também os mesmos vícios e virtudes. O seu local de morada foi indicado no monte Olimpo, um pico da Tessália, cercado de brancas nuvens e bafejado por tépidas aragens, de onde se pode manter controle sobre a região toda em derredor. Contudo, os deuses eram também influenciados pelos hábitos dos humanos e muitas vezes preferiam a terra ao céu e o amor dos mortais ao dos imortais. Nascem, então, os bastardos, meio deuses e meio homens, os semideuses que, colocados pelo Destino, entre o céu e a terra, participam igualmente de prerrogativas divinas e limitações humanas. O Olimpo torna-se pequeno para acolher a enorme proliferação de deuses, cada um gerador de forças que governam cada ato da vida. E daí muitos deuses se transferem para a terra e passam a morar entre seus adoradores. Este é um outro momento de grande importância para a evolução da consciência humana, a percepção da proximidade entre o céu e a terra, quando o homem compreende que seu corpo mortal pode acolher e conservar em si a imortalidade, própria dos deuses.

Este mundo misterioso tem um guia, um intérprete, um responsável: o sacerdote. Em geral, é aquele indivíduo mais perspicaz, que é capaz de perceber mais além dos outros e descobrir a chave deste universo fantástico. Ele compreende a metáfora do poder divino e enxerga para além dela as forças naturais que governam os fenômenos Ele se destaca entre os seus semelhantes por ser capaz de alcançar aquilo que os outros ignoram ou temem e deste modo fica fácil para ele impor-se ao grupo, criando uma sólida liderança. Ele se torna o intérprete da tribo, aquele que tem, por intrepidez ou por ousadia, o poder de interferir nos poderes divinos e comandar as forças invisíveis que governam tudo, e que se manifestam por sua atuação. Esta 'ciência secreta’ dos sacerdotes é um grande segredo que somente uns poucos terão o privilégio de conhecer, ou seja, o sacerdote as cerca de todos os cuidados para preservar a sua dignidade, seja morando em casas separadas dos outros, seja usando vestes diferentes ou fazendo uso de drogas miraculosas. O papel exercido pelo sacerdote primitivo foi uma espécie de antecipação do poder que a ciência exerce atualmente sobre a sociedade, e que era então exercido em nome da religião. A ciência secreta tornou-se a ciência natural e a casta sacerdotal converteu-se na classe cientifica.

(Texto O HOMEM E O MITO - A alvorada do pensamento discursivo de Antonio Carlos Machado)

Em poucas palavras, Mito pode ser uma crença,uma maneira de explicar certos fenômenos e, ou ,acontecimentos,que podem agregar seres superiores ou sobrenaturais, os chamados seres mitológicos,ou ainda, relatos de civilizações antigas, que organizados dentro de uma cultura, constituem uma Mitologia. Temos como exemplo a mitologia Grega e suas divindades, seres folclóricos, literários, entre muitos outros.


Citação de Fernando Pessoa:

"O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo."


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